Monthly Archives: setembro 2020

Feliz-idade!

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Feliz-idade!

 

Dom Sergio da Rocha

Cardeal Arcebispo de Salvador, Primaz do Brasil

 

Neste tempo de pandemia, as pessoas idosas têm assumido, com redobrado empenho, o cuidado da saúde. O fato de pertencer a grupos de risco, enquanto pessoa idosa, não diminui o sentido e a alegria de viver. Ao contrário, a pandemia têm levado muitos a valorizarem, ainda mais, a vida e a cuidar melhor da própria saúde e da saúde de seus familiares.  Apesar da influência dos fatores sociais, é fundamental a postura da própria pessoa frente à fase da vida em que se encontra. Corre-se o risco de exaltar uma fase da vida e desdenhar outra, em função de experiências vividas ou a partir de paradigmas estabelecidos socialmente. Na realidade, cada idade tem suas potencialidades e limitações, alegrias e dificuldades. O desafio é fazer da idade que se vive uma feliz idade depende não somente das oportunidades que a vida oferece, mas das posturas pessoais adotadas.

Feliz-idade - Foto: Vatican Media

Feliz-idade – Foto: Vatican Media

 

Se não for possível experimentar a vida, após os sessenta anos, como a “melhor idade”, como muitos denominam, será sempre muito válido torná-la uma “feliz idade”. Para tanto, muitas iniciativas têm sido desenvolvidas visando à valorização e ao bem estar das pessoas idosas: avanços na legislação, com o Estatuto do Idoso, cursos oferecidos por universidades, acesso a computador e internet, projetos sociais e serviços especializados para essa faixa etária, associações e grupos de pessoas idosas, iniciativas das Igrejas, como a Pastoral da Pessoa Idosa. Fazer da “terceira idade” uma feliz idade é tarefa pessoal que necessita também da sociedade em que vivemos, a começar do ambiente familiar, estendendo-se aos outros ambientes e situações. A exigência de políticas públicas adequadas em favor das pessoas idosas interpela, de modo especial, os poderes públicos e pressupõe o exercício consciente da cidadania pela população. É preciso assegurar os direitos das pessoas idosas, como a aposentadoria digna, e demonstrar afeto, gratidão e respeito para com elas, no cotidiano.

 

O papel de cada pessoa neste processo é insubstituível, pois a felicidade não depende apenas de fatores externos, mas do modo como se compreende e se vive a vida. A pessoa idosa não deve se deixar levar por estereótipos e preconceitos, nem pela exaltação ingênua. É importante cultivar uma postura serena e realista diante das normais limitações da idade, sem se acomodar. É preciso reconhecer e desenvolver as potencialidades da vida, o seu rico e inesgotável dinamismo, continuando a crescer rumo ao amadurecimento, cada vez maior, afetivo, intelectual e espiritual. A vivência da fé em Deus anima cada pessoa em qualquer fase da vida, mas enriquece e fortalece ainda mais quem recebe o dom de chegar à idade avançada e ilumina a tarefa de fazer dela uma “feliz-idade”.

 

*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 13 de setembro de 2020.

 

Fonte: Vatican News

Francisco: o apelo pela paz aos jovens, futuros agentes de transformação

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Francisco: o apelo pela paz aos jovens, futuros agentes de transformação

 

No prefácio da mais recente obra publicada pela Livraria Editora Vaticana, intitulada “Por um saber sobre a paz”, organizada por Gilfredo Marengo, o Papa Francisco se dirige especialmente aos jovens que pretendem se especializar em Ciências da Paz, tornando-se “agentes de paz”. O gosto pelo estudo, afirma o Pontífice, deve ser acompanhado por um coração inspirado no Evangelho, capaz de compartilhar as esperanças e as ansiedades dos homens de hoje imersos num clima de guerra e de violência no mundo.

 

“Por que em um mundo onde a globalização quebrou tantas fronteiras, onde todos – se diz – estamos interligados, se continua a praticar a violência nas relações entre os indivíduos e as comunidades?”, questiona o Papa Francisco ao assinar o prefácio da mais recente obra publicada pela Livraria Editora Vaticana (LEV), intitulada “Por um saber sobre a paz” (“Per un saper della pace”, em língua original).

 

“Por que quem é diferente de nós muitas vezes nos assusta de tal forma de assumirmos uma atitude defensiva e desconfiada que com muita frequência se torna uma agressão hostil?”, indaga ainda o Pontífice no texto inédito que introduz o livro – em língua italiana – organizado por Gilfredo Marengo, vice-presidente e professor ordinário de Antropologia Teológica do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família.

 

“Por que os governos dos Estados acreditam que demonstrar a sua força, mesmo com atos de guerra, pode dar-lhes maior credibilidade aos olhos dos cidadãos e aumentar o consenso de que desfrutam?”. São todas questões que antecipam o pensamento do Papa Francisco na obra, ao encorajar a cooperação entre a Igreja e as universidades, investindo nas jovens gerações para um mundo sem guerras e violências. O Pontífice explica no prefácio a importância de contribuir na formação de agentes de paz, ao recordar sua recente decisão de instituir um ciclo de estudos em Ciências da Paz na Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma. O próprio livro propõe uma série de contribuições, a maioria delas provenientes de um seminário de estudos realizado em 2019 na própria instituição.

A obra em lígua italiana - Foto: Vatican Media

A obra em lígua italiana – Foto: Vatican Media

 

O prefácio do Papa Francisco

 

O ponto de partida é uma dimensão particular da “Igreja em saída” que se reflete na colaboração com o mundo acadêmico. Francisco escreve que “a Igreja é chamada a se comprometer com a solução de problemas relativos à paz, à concórdia, ao meio ambiente, à defesa da vida, aos direitos humanos e civis”. E, nesse caminho, prossegue o Papa, “o mundo universitário tem um papel central” já que simboliza “aquele humanismo integral que precisa ser continuamente renovado e enriquecido”.

 

Nesse horizonte se destaca, então, um novo desafio acadêmico interdisciplinar baseado num diálogo fecundo entre filosofia, teologia, direito e história. Francisco se diz estar confiante “que um aprofundamento rigoroso dessas linhas de pesquisa, alimentadas também pelas contribuições das ciências humanas, será capaz de fomentar o crescimento de um ‘saber sobre a paz’ para realmente formar preciosos agentes de paz, prontos a se colocar em jogo nas mais diversas áreas da vida das nossas sociedades”.

 

O kit de formação

 

Mas o que é preciso para se especializar nesse campo? O Papa indica:

“Um bom agente de paz deve ser capaz de amadurecer um olhar sobre o mundo e a história que não caia em um ‘excesso de diagnóstico’, que nem sempre é acompanhado de propostas resolutas e realmente aplicáveis. Trata-se, de fato, de ir além de uma abordagem puramente sociológica que tenha a pretensão de abraçar toda a realidade de forma neutra e asséptica.”

 

O estudo inspirado no Evangelho

O Papa Francisco em visita ao Panamá em 2019 por ocasião da JMJ - Foto: AFP or licensors

O Papa Francisco em visita ao Panamá em 2019 por ocasião da JMJ – Foto: AFP or licensors

 

Francisco, portanto, nos convida a manter o olhar sobre o contexto sem negligenciar os aspectos práticos, quando indica: “quem pretende se tornar um especialista em Ciências da Paz precisa aprender a estar atento aos sinais dos tempos: o gosto pela pesquisa científica e pelo estudo deve ser acompanhado por um coração capaz de compartilhar as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje a fim de saber realizar um verdadeiro discernimento evangélico”.

 

Ao se dirigir às pessoas potencialmente interessadas, o Papa dá uma outra indicação. “Envolver-se nesses percursos de formação”, esclarece ele, “poderá ser uma ajuda válida para muitos jovens descobrirem que a vocação leiga é, antes de tudo, a caridade na família e a caridade social ou política”. Esse, então, adverte o Pontífice, “é um compromisso concreto a partir da fé para a construção de uma nova sociedade”.

 

Andressa Collet, Eugenio Bonanata – Vatican News